O
que importa quando a manhã nasce? Frida Khalo, em seus Diários, diria que é a
não ilusão. Mas como manter a fagulha crepitando sem um pouquinho que seja de
ilusão? De
uma ilusão a outra, quando a manhã nasce o céu segue atravessando todos os tons
da luz, e eu – que sempre tive o hábito de levantar ainda no escuro – fico aqui
no meu canto testemunhando a cada minuto a chegada do azul. E há manhãs em que o azul é tanto que chega a
doer dentro de mim. É o
cheiro da flor de lavanda que fica mais intenso quando o sol aparece e evapora
o orvalho que insistiu em amanhecer, é a sabiá-laranjeira que faz chegar até
mim a sua excitação misturada com
melancolia, é o ruído – bem longe – de um carro, é um cão que late para
o nada, é o gosto amargo do café na minha boca, é uma lembrança e uma
expectativa, tudo isso uma manhã me traz. No
entanto, na semana passada, além destes elementos e sensações tão familiares, a
manhã me trouxe algo inesperado, me trouxe o passado, um passado inacabado. Tudo
pode…
Blog da escritora Fabiula Bortolozzo, autora de romances e contos que retratam o feminino e a diversidade.